Mais um post de estilo bastante diferente do meu
Era um amor literário.
À noite, quando ele chegava tarde do emprego, tresandanado a álcool, do copo que ainda tinha ido beber ao Snob, ela não fazia cenas de ciúmes, não procurava baton nos colarinhos, enrolava-se dengosa e pedia-lhe apenas isto: escreve-me.
E ele agarrava na caneta Rotring, de tinta da china, bico 0,7 mm, e em vez de escrever aquele amor no papel, tatuava-o na pele da mulher morena.
Às vezes, ela não tomava banho. E às vezes, choviam queixas dos colegas de trabalho, porque quando ele escrevia no seu corpo, com palavras demasiado belas, ela tentava preservar o máximo de tempo aquele amor literário, agarrado à sua pele.
E quando tinha saudades, quando ele se esquecia de vir para casa, ela levantava a manga da camisa, ou puxava a saia até à coxa e sentia-se mais feliz.
[Foda-se, que é uma imagem bonita]
8 comentários:
Alguma vez viste o Pillow Book do Peter Greenaway?
É que é mesmo uma imagem bonita...
é sim. somos doentes?...
Yep! Muito.
Não, não vi. Mas tenho que ver. Aquela imagem da chinoca cheia de caracteres nas costas persegue-me.
E, sim, thê, somos um bocadinho doentes. As duas.
Sem te conhecer acho que Greenaway é capaz de ser a tua cara... :)
bonito texto.
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