quinta-feira, dezembro 15, 2005

Post que eu não devia escrever

Enquanto não me ligam da câmara de Lisboa a explicar-me porque é que estão a cortar os chopos do jardim onde eu cresci, enquanto a febre sobe, da amigdalite que me veio visitar esta noite, enquanto respiro com dificuldade por uma narina menos congestionada.

Mas os chopos deixam de ter importância, deixa de ter importância a insensibilidade do meu amigo incitável face à minha hiper-sensibilidade botânica (quase que chorei, meu sacana, com os teus comentários horrorosos acerca dos meus chopos que estão a ser mortos pela trupe do Carmona), tudo deixa de ter importância.
O lixo dos últimos dias parece apenas um cotãozinho debaixo do sofá, porque uma bébé de 50 dias foi abusada de todas as formas possíveis e inimagináveis, porque a Comissão de Protecção de Jovens e Menores não viu nada e lava dali as suas mãos, porque o Tribunal de Menores não mexeu uma palha, apesar de o primeiro internamento da criança ter sido aos 14 dias de vida - "Não estamos dentro da mente das pessoas", é o título da entrevista a uma senhora que se chama Maria do Carmo Sá e que me mete nojo -, porque ninguém se deu ao trabalho de verificar que o progenitor da criança estava envolvido em vários processos de abusos sexuais, porque, leio, na legenda da foto: "A PJ está convicta de que só o pai terá agredido a bébé; a mãe limitava-se a observar sem intervir".

Eu não posso ler estas notícias, eu não devia ser jornalista e este é um post que eu não devia escrever. Como o que anda perdido nos arquivos deste blogue, o da Vanessa, a menina de olhos azuis que foi deixada morrer pela avó e pelo pai, a foto da menina mascarada de chinesa na primeira página do Correio da Manhã, a Vanessa que foi retirada aos padrinhos que a criaram até aos cinco anos, a Vanessa que foi queimada com água a escaldar e que agonizou até à morte.

Mas anda tudo muito preocupado com quem vai ser o próximo PR, ou quem ganhou o frente-a-frente de ontem. Puta que pariu este país! Decidi agora mesmo: a 22 de Janeiro dou o meu primeiro passo para dentro do grupo da sempre vitoriosa abstenção.

13 comentários:

Lcego disse...

Fogo, este país deveria ter um grande livro amarelo, que tal oferecer um para a entrada da AR?
Ou melhor uma caixa gigante de sugestões, onde todas elas podem ser anónimas, assim ninguém se queima com um fascismo que supostamente não existe mas que todos sabemos que anda por aí!
De censura já se fala por aí ou ainda é tabu?
Só quando assumirmos as limitações dar-se-ão revoluções, interiores, regionais e nacionais.
Tou farta deste país que desenrasca explicações, demagogias, e não deixa actos ou soluções falarem por si.
Já agora se organizares uma manif para não cortarem as àrvores avisa que vou, já que não podemos salvar uma criança a tempo...

Dia disse...

Vão matar 20 chopos da avenida onde vim nascer. São quase todos. Estão a cumprir uma promessa eleitoral, diz-me o porta-voz. Acho que quero mudar de cidade. Acho que quero mudar de país.

Lcego disse...

Mas a quem é que eles fizeram tal promessa? Os chopos estrovam quem? Faz como se fez cá na aldeia, organiza uma comissão de defesa com vizinhos inconformados, informa associações de defesa ambiental e no minímo tenta um acordo para minimizar esse número. Não faço ideia que avenida seja mas não tolero que abatam uma àrvore para caber mais um carro, numa cidade cada vez mais Cimpor.
Estou solidária.

Dia disse...

Amanhã sai uma notícia que eu escrevi. Não sei se chega.

Mary Lamb disse...

Esperemos que chegue...

Anónimo disse...

Boa posta...


FTA

Dia disse...

Olha o incitável número dois. Pensei que andavas zangado comigo por propagar aos sete ventos (descansa, este blogue não é de grande envergadura como o teu, tem 200 pageloads por dia e não mais de cem visitantes únicos e há um trupe de Ourém muito fixe e fiel) as tuas qualidades imobiliárias... Benvindo de novo.

Filipe Simões disse...

Infelizmente este é o nosso país,o país das desgraças onde somos a noticia da miséria,da desgraça e da merda.
Em relação aos chopos que andam a cortar no jardim onde tu cresceste,eu pergunto agora onde anda as Quercus?
A quem interessa esse corte dos chopos e quem incomoda a quem?Será mais um negócio?
Em relação ás noticias da bebé abusada pelos pais e que está em risco de vida no Hosp. Pediátrico em Coimbra só tenho uma palavra NOJO.
Esses pais não merecem ser presos,merecem morrer.Ter uma morte maus cruel,dolorosa e sofredora do que sofreu a pobre bebé que com 50 dias não se pode defender das garras dos seus predadores que deviam ser seus protetores.
Este é o nosso país,viva as eleições,porque casos como o da Joana que até hoje ainda não se sabe do corpo da menina de 8 anos é segundo plano.
Viva Portugal,é este o meu país.
Querida Dia,quando fugires deste país,por favor leva-me contigo...
Beijinhos.

fernando lucas disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
fernando lucas disse...

o chopo é a minha árvore do signo celta.
nos dias de hoje as pessoas ficam chateadas em ter uma arvore a tapar a vista que tem da sala para a fachada de outro prédio a 40 metros.
o único problema "técnico" do chopo é tamanho das raízes, chegam a atingir 3x mais a altura da árvore. sabemos agora que o chopo não se deve plantar perto de canalizações porque rebenta com elas. mas acredito que deve ser por tapar as vistas que os cortaram...

agora a Comissão de Protecção de Jovens e Menores tem que ser julgada pela irresponsabilidade que cometeu para com a criança... será quem avaliou o caso dorme descansado?

MPR disse...

Honestamente - e desculpem-me por não me juntar ao coro de protestos - não vejo a ligação entre o abuso abjecto de uma menina de 50 dias e o PR. Uma coisa não se sobrepõem à outra, não anula, não interfere, não nada. São duas realidades perfeitamente distintas. Mais, acho que a abstenção é a pior escolha possivel, é baixar os braços e dizer que deixas que escolham por ti. Se Lisboa em peso tivesse ido votar noutro tipo qualquer que não o Carmona os chopos ainda estariam no sítio. Se a defesa das crianças fosse desde sempre uma prioridade e existisse um movimento forte (criado pelas pessoas) nesse sentido, se calhar este caso tivesse sido evitado. Se se votassem noutros partidos, ou mesmo em branco, a organização do Estado não seria a mesma e quiçá lá estivesse alguem que se preocupasse em reestruturar os serviços de apoio à criança e a função pública, evitando esta tragédia.
Portugal não é um conceito abstracto. É um país, composto por pessoas. E a soma destas pessoas é que faz o caminho que o país leva. Portugal não é externo a nós, pelo contrário somos parte integrante dele, e se está uma merda então é a merda que todos nós criámos, os que cá estamos e os que cá estiveram. Baixar os braços, não votar nem que seja em branco, só ajuda a manter tudo na mesma, só ajuda a aprofundar o lodo. As queixas sem acção tornam-se inuteis...

Anónimo disse...

Apesar da notícia não ter saído no resto do país, o local centro está contigo ah! Tentaram fazer o mesmo em Viseu na avenida da Bélgica!
Ainda se salvaram bastantes.

Lcego disse...

Concordo com o MPR, faço questão de gozar o meu acto de escolha assumidamente livre, apesar de não encontrar nenhuma alternativa convincente. Nem que seja só para dizer umas verdades no boletim de voto!