Dias assim
Há dias assim.
Em que o facto de não ter tido que desembolsar 90 euros de multa e reboque por estacionamento ilícito no parque reservado às viaturas da Polícia Judiciária da rua de Santa Marta - a menos de trinta metros da Divisão de Trânsito da PSP, de onde saem os reboques - não chega.
Dias em que, apesar de a loira endiabrada que divide o apartamento connosco ter dormido e deixado dormir o sono dos justos até quase ao meio dia, não se acorda nem um bocadinho mais feliz. Porque o dia começa e para trás deixa-se, nas rugas dos lençóis bordados por uma mãe loira de olhos azuis, uma noite cheia de sonhos, de sonhos que já não nos pertencem.
Há dias assim.
Em que tomamos o pequeno-almoço em família à hora em que todos almoçam, e porque estamos todos de folga, há dias em vamos pela avenida de Roma fora, inventando gagues de mau gosto, a rir a bandeiras despregadas com o "sketch" da loja do comércio injusto (onde as prateleiras estão cheias de produtos fruto de trabalho escravo; todo o material à venda, sem excepção, contém uma etiqueta com a fotografia da criança escrava agrilhoada a um poste que o produziu, com todos os seus dados bibliográficos).
Há dias assim.
Em que choramos ao saber que apagaram o nosso número de telefone. Em que ganhamos coragem e relemos finalmente este post.
Há dias assim.
E no final de um dia assim resta-nos apenas uma certeza: que na quarta tudo será melhor. Porque continua a ser dia de desafiar o destino, porque há jantar de bloggers cá em casa.
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